Seria impossível o mar criar ondas e o ser humano, ao observá-las, não ter vontade de brincar com elas. Muitas culturas ancestrais de praia em todo o mundo, mostram inventos dedicados a essa brincadeira possível: pranchas, canoas, cavalos de totora... eu sou uma dessas pessoas que sempre quiseram brincar com as ondas.
Quando criança, buscava ficar em pé nas planondas de isopor. Aos 14 anos, troquei uma excursão da escola por uma prancha de verdade, na rebarba do meu irmão mais velho. Aos 58, pratico exercícios todos os dias para seguir surfando até os 80.
E o que isso tem a ver em uma rede como o Linkedin?
O surf tem muito a ensinar ao mundo corporativo e às pessoas que formam esse mundo. O mar, mais ainda. Para começar, ninguém dropa [ fica em pé ] uma onda sem determinação. Surfista é gente com disciplina, força de vontade. Não dá para chegar ao outside sem remar. Braçada por braçada. E lá no outside, todos são iguais, o surf é democrático. Todos têm um espírito jovem, com 14 ou com 80.
E onda após onda, ouso dizer que todo surfista se sente cada vez mais parte da Natureza e disso nasce uma real e visceral consciência ambiental. O surf leva quem ama o esporte para locais intocados. O surf nos faz acordar junto com o Sol. E a dormir também.
O surf, inevitavelmente, coloca o atleta em situações limite, que exigem controle e calma. Lembro de um dia estar quase sozinho na Joaquina, em Santa Catarina, quando meu leash rompeu num mar grande. Fiquei à deriva por alguns minutos até recobrar a calma e começar a nadar. Achei a prancha e aprendi que a vida pode depender da tranquilidade. Crises corporativas também precisam dela.
Surfar ensina que é preciso de muito pouco para se divertir. A vida pode ser minimalista. Deve ser.
E a vida pode ser longa no surf. Assim como se vislumbra a vida para a nossa geração. Teremos quantas vidas nessa vida? Durante e depois de nossas carreiras primárias, quantas experiências podemos viver? Quais queremos viver? Como podemos nos preparar para elas?
Aos 50 anos, tive de parar de jogar futebol. Trabalhava muito e não tinha mais o preparo necessário para os dribles. Machucar feio estava no roteiro dos próximos capítulos quando deixei as quadras. Na hora, não entendi que ficaria tão chateado por parar de fazer algo que me dava tanto prazer. Fiquei realmente triste com essa perda e decidi: de surfar, não deixaria.
Com essa meta, me preparo diariamente para cumpri-la. Fomos forjados a metas e, de uma certa forma, precisamos delas para seguir realmente vivos nas várias fases da vida. Aos 58, com novos planos, tenho sido procurado por colegas que estão em mudanças profundas na vida. Diferente do que pensamos, ao passar dos 50 temos percebido que a vida não está “resolvida” depois dos 35 anos de trabalho. Há muito a fazer, há muita vida a ser vivida.
Você já parou para pensar qual vai ser a vida que você quer viver? Daqui para a frente? Você tem metas para seus 80 anos? Uma das minhas, já disse, é surfar. Ando praticando.
E como um aceno da Natureza dizendo que estou fazendo a escolha certa, avistei uma baleia aqui na praia, enquanto eu pensava em escrever esse texto. Que venham mais ondas e remadas, para que eu possa surfar entre os mais novos e os mais velhos, entre homens e mulheres.
PS: Celebro o medalha de ouro em Tóquio, Ítalo Ferreira! Colocando o Brasil de novo, entre os melhores do mundo no esporte. Por aqui, criamos um surf aéreo, radical. Que ele nos inspire criar a vida que queremos!
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